Abstinência da Maconha e Dependência da Maconha.
Olá pessoal hoje vou escrever sobre a Abstinência da Maconha e Dependência da Maconha . Estou curioso para saber o que vocês pensam sobre o assunto. Antes de começar quero dizer que eu sofro da Abstinência da Maconha e é muito complicado lidar com essa situação. E para ajudar outras pessoas resolvi criar essa publicação, que na minha visão pode e ira tirar muitas pessoas desse caminho. Fiz essa publicação com muito carinho peço que deixem um feedback , tive um trabalho imenso para trazer este contéudo até você.Segue alguns tópicos a serem analisados:
- Quem pensaria que a maconha não era viciante?
- Como pode lidar com a ansiedade e a depressão durante a sua desintoxicação de ervas daninhas e tornar a vida um pouco menos difícil?
- O que causa a ansiedade e a depressão, durante o retiro de maconha?
- Como se pode lidar com a ansiedade e a depressão durante a desintoxicação de ervas daninhas?
- Como se pode combater a ansiedade e a depressão, durante o retiro de maconha?
- Auto-ajuda para a ansiedade e a depressão durante a retirada de maconha .
- Quem deve procurar ajuda profissional durante o retiro de maconha, e quais opções estão disponíveis?
- Síndrome de abstinência de maconha pode ser curada sem medicamento?
- " O que eu faço?"
- Tratamento psicoterapêutico é necessário.
- Efeitos da maconha no cérebro.
- Como é o consumo de maconha no Brasil ?
- O consumo de maconha está aumentando no Brasil ?
- O consumo de maconha está aumentando no mundo?
- Maconha: formas de uso e modificações genéticas da planta.
- A maconha no Sistema Nervoso Central.
- O Sistema Canabinóide Endógeno.
- Maconha e Síndrome de Abstinência
- São eles: sintomas:
- Existe uma dependência da maconha ?
- Maconha e Adolescência.
- A maconha atrapalha o desenvolvimento do adolescente?
- O uso de maconha aumento o risco de transtornos mentais ?
- Maconha e Depressão.
- Existe uma relação entre Maconha e Esquizofrenia?
- USO DE MACONHA E ANSIEDADE
- TDAH e Maconha.
- Maconha e Dirigir Automóveis.
- Estudos com terapias psicológicas e usuários de maconha.
- Terapia Farmacológica
- Maconha e Funções Cognitivas
- Maconha e efeitos na gravidez
- Genética e uso de maconha
- Desintoxicação de maconha
- O que é desintoxicação?
- Doenças e transtornos correlacionados à dependência de maconha
- Os benefícios de programas de desintoxicação e recuperação da dependência de maconha
- O programa de desintoxicação da maconha
- O programa de recuperação da dependência da maconha.
- Maconha e sintomas de abstinência.
- A Síndrome de Abstinência de Maconha
- Como eu parei de usar a Maconha.
Abstinência da maconha não é piada

Larguei a maconha oito anos atrás. Fui promovido – de supervisor de telemarketing para o alto escalão, gerente de telemarketing – e não podia mais aparecer no trabalho chapado. O que mais me lembro da semana seguinte à pausa foi um fluxo noturno de sonhos terríveis. Era com se eu estivesse sonhando em stereo, como se meu cérebro experimentasse a novidade de sono realmente profundo pela primeira vez em anos.
Aí os sonhos pararam. Uma semana depois, quando os terrores noturnos e suor frio ficaram para trás, minha memória de curto prazo começou a melhorar. Eu tinha mais energia. Eu era mais sociável dentro e fora do trampo. Saí daquele trabalho alguns meses depois e comecei a fazer algo que eu realmente gostava. Tudo na minha vida melhorou. Mas largar a maconha não é fácil para todo mundo; para alguns é uma experiência repleta de problemas agudos – físicos, mentais e emocionais.
“Parar de consumir cannabis geralmente significa muita dor, vômito, diarreia e não conseguir dormir ou comer”, diz Alex Fraser, 26 anos. Alex tem a doença de Crohn, diagnosticada quando ele tinha 19. Ele tinha acabado de fazer uma ileostomia, procedimento no qual parte doente de seu intestino foi removida. Isso representou uma melhora drástica em sua qualidade de vida, mas ele ainda dependia muito da cannabis para manter seu motor funcionando.
“Apesar da cirurgia, eu ainda tinha problemas para comer, náuseas e insônia”, ele diz. “Se não tinha cannabis, eu acabava usando remédios pesados: zopiclona para dormir e oxicodona para a dor. Mas nada ajudava particularmente com a náusea e a falta de apetite, fora a cannabis.”
Alex, que geralmente consome maconha com ajuda de um vaping, às vezes também fuma e come cannabis, e conta com a droga para manter sua saúde mental. “Ela ajuda muito com questões de saúde mental que tenho desde a cirurgia. Ataques de ansiedade e problemas de autoestima melhoram ou são eliminados com a cannabis, e meus níveis de energia aumentam”, ele explica.
Jon Liebling é diretor da United Parient's Alliance, que atualmente faz lobby para a legalização da maconha medicinal no Reino Unido. Jon tinha um longo histórico de questões mentais profundas e recentemente foi diagnosticada com Transtorno de Stress Pós-Traumático.
“Tenho lidado com ansiedade, depressão e pensamentos suicidas pela maior parte da vida, mas me mantenho relativamente feliz com o uso de cannabis”, diz Jon. “Uns dois anos atrás, vários eventos traumáticos aconteceram comigo num curto espaço de tempo. Percebi que precisava de mais ajuda, então pedi ao meu médico para me encaminhar a um terapeuta. Quando informei que usava cannabis, ele se recusou a me encaminhar a menos que eu parasse de usar. Ele me prescreveu prozac e diazepam. Sempre tive pensamentos suicidas, mas o que me mantém vivo é a insatisfação com esses pensamentos. O prozac tornou meus pensamentos mais felizes, mas também me deixava feliz com minhas tendências suicidas. Então agi segundo elas pela primeira vez em 20 anos.”
Jon voltou ao hospital e descobriu que uma substituta de seu médico habitual estava atendendo naquele dia. Ela imediatamente o tirou do prozac e o encaminhou para a terapia. Ela também disse a ele para voltar a lidar com sua condição com maconha, e ele é grato por ainda estar aqui para contar a história.
Infelizmente, além de evidências anedóticas, é difícil apoiar os comentários de Alex e Jon com ciência, já que não há muita pesquisa nesse campo no momento. Além disso, suas condições médicas pessoais – embora severas, sem dúvida – não são indicativas da população em geral. Um trabalho de 2010 chamado “Avaliação e gerenciamento de transtornos de uso de cannabis em tratamento primário” sugere que, para diferenciar entre transtornos psiquiátricos e intoxicação crônica de maconha, um paciente precisa parar o uso de cannabis por duas a quatro semanas. Num estudo pequeno com 20 pacientes sobre síndrome de abstinência, eles descobriram que “sintomas de base de depressão são reduzidos a níveis normais depois de quatro semanas de abstinência”.
Um dos criadores do estudo é o professor Adam Winstock, fundador do Relatório Mundial de Drogas – um estudo sobre como o mundo consome drogas – consultor de psiquiatria e especialista em medicina de vício. Entre esses dois papéis, ele analisa os hábitos de consumo de drogas de aproximadamente 500 mil pessoas, e 300 mil usuários de cannabis. Ele está numa boa posição para aconselhar sobre como lidar com efeitos mais estabelecidos da síndrome de abstinência de cannabis. Para a maioria, como aconteceu comigo na minha Grande Promoção no meio dos anos 2000, isso significa: a) insônia e sonhos vívidos e b) abstinência de nicotina. Grande parte do primeiro problema vem de uma fonte improvável.
“Muita gente que fuma maconha regularmente bebe muita cafeína. Chá, café, energéticos. Geralmente para balancear os efeitos sedativos da maconha. Se você continua bebendo 15 xícaras de chá quando larga a maconha, isso vai piorar sua insônia, o que vai te deixar agitado”, diz Winstock.
Para quem sempre fumou becks com tabaco, há uma boa chance de também experimentar os sintomas de abstinência de nicotina. Para quem quer largar a maconha, Adam aconselha parar com a cannabis e a nicotina ao mesmo tempo – mas acrescenta que é crucial diminuir gradualmente seu consumo de tabaco e cafeína antes de largar a maconha de vez. Isso terá um segundo benefício inesperado na luta contra a falta de sono da abstinência.
“O tabaco metaboliza a cafeína. Ela quebra suas partículas”, ele explica. “Então quando você para de fumar tabaco, seus níveis de cafeína decolam. Você sente um golpe duplo: você não está apenas tomando uma droga estimulante [cafeína] que provavelmente já usava demais, mas usando uma droga estimulante cujos níveis vão decolar porque o tabaco não está mais quebrando suas partículas.”
Adam também diz que a intensidade da sua síndrome de abstinência provavelmente vai variar pelo tipo de maconha que você fuma. “Se você fuma maconha de alto THC, como skunk, a insônia provavelmente vai ser pior – seus sonhos estranhos são piores, sua fissura vai ser pior e seu mau humor vai ser pior.”
Os sintomas de abstinência de maconha geralmente atingem um pico por volta do dia dois ou três, e geralmente passam depois de sétimo. Falta de sono e sonhos vívidos podem durar duas semanas, mas o principal conselho de Adam para largar a maconha é “tenha uma boa rotina de sono”. Mais fácil falar que fazer, claro, mas há alguns hábitos básicos que podem ajudar.
“Exercício provavelmente é a melhor coisa que você pode fazer”, ele diz. “Claro, não exagere, mas se está cansado quando vai para a cama, você tem muito mais chances de dormir bem. Desligue as telas algumas horas antes de se deitar e evite cafeína. E não desista e ligue para o seu traficante depois de uma má noite de sono! As coisas ficam mais fáceis em pouco tempo.”
A ansiedade e a depressão são surpreendentemente sintomas mais comuns da abstinência de maconha. Por que a gente se torna ansiosa e deprimida depois de deixar a cannabis, e que tratamentos naturais, médicos estão disponíveis para ajudá-lo através de sua remoção de ervas daninhas?
Sintomas de abstinência de maconha: manejo da ansiedade e da depressão durante a desintoxicação de ervas daninhas
Quem pensaria que a maconha não era viciante?
Mais da metade dos que procuram ajuda médica para deixar de fumar indicam sintomas significativos de abstinência de maconha, mas isso não significa que a maioria dos que isentam-se, por si mesmos o fazem também, significa que é bom estar preparado para a desintoxicação de ervas daninhas antes de parar de usar maconha.
Os sintomas de abstinência de maconha incluem alterações de humor como a raiva e nervosismo, dificuldades de comportamento, como insônia e inquietação, doenças físicas, tais como náuseas e suores e problemas psicológicos como a depressão e a ansiedade.
Como pode lidar com a ansiedade e a depressão durante a sua desintoxicação de ervas daninhas e tornar a vida um pouco menos difícil?
O que causa a ansiedade e a depressão, durante o retiro de maconha?
A maconha tem a reputação de ser uma droga, em grande medida, inofensiva e não aditiva, com alguns usuários que nem sequer consideram a maconha uma droga real. A pesquisa mostra, porém, que a retirada da cannabis é um fenômeno muito real, com implicações clinicamente significativas. Isto é parcialmente devido ao fato de que a potência da maconha no mercado hoje em dia é muito mais forte do que a potência da erva de décadas passadas.
O fato de que muitos usuários de cannabis combinam ervas daninhas com tabaco quando fumam, significa que uma parte significativa das pessoas que estão passando pela retirada de maconha vai retirar-se da nicotina ao mesmo tempo. A abstinência da nicotina está associada com muitos dos mesmos sintomas que você encontrar durante a desintoxicação da erva, o que significa que você pode estar lidando com um “duplo golpe”, fazendo este processo ainda pior.
Por último, há evidências de que uma parte significativa dos usuários de cannabis forte ou conscientemente voltou a maconha para aliviar os sintomas da depressão pré-existente ou transtornos de ansiedade (fobia social e a dependência da maconha são uma combinação especialmente frequente), ou tropeçou com maconha e, em seguida, começou a usá-lo como um meio para o sexual. Os usuários de maconha neste grupo podem achar que seus distúrbios preexistentes de depressão ou ansiedade, que voltam à cabeça uma vez que passam pela desintoxicação de cannabis.
Como se pode lidar com a ansiedade e a depressão durante a desintoxicação de ervas daninhas?
Como se pode combater a ansiedade e a depressão, durante o retiro de maconha?
Você tem cerca de três opções diferentes à sua disposição. A primeira é tentar resistir, até que os seus sintomas de abstinência melhoram, no conhecimento de que a maioria das pessoas se sentem melhor, duas semanas depois de ter deixado de vegetação, sem fazer nada em particular. A segunda é recorrer a métodos de auto-ajuda que irão ajudá-lo através de sua desintoxicação sem ajuda médica, e a terceira opção é procurar ajuda profissional para seus sintomas de abstinência de maconha. As duas últimas formas de lidar com a ansiedade e a depressão durante a desintoxicação de ervas daninhas de novo vêm com suas próprias subcategorias.Vamos ver.
Auto-ajuda para a ansiedade e a depressão durante a retirada de maconha
A pesquisa mostra que o exercício aeróbico moderado é uma forma surpreendentemente eficaz de lidar com os desejos de maconha que muitas pessoas experimentam quando estão passando por desintoxicação de ervas daninhas. Também foi demonstrado que o exercício leva a uma diminuição dos sintomas de depressão e ansiedade, e talvez mais relevante para os antigos consumidores de cannabis, a busca de sensações.Experimente estes 2 exercícios de respiração para dormir melhor durante a desintoxicação de ervas daninhas: Respiração profunda, diafragma e respiração Pranayama ou respiração sadhana, uma outra maneira com o apoio da ciência para diminuir tanto a ansiedade como a depressão.
Não custa nada se sentar em uma posição de pernas cruzadas, inspire profundamente através da boca, para conter a respiração enquanto aperta sua garganta levemente como se estivesse a ponto de sussurrar, e, em seguida, expire suavemente. Inalar através de uma narina, enquanto mantém a outra fechada, e depois exalar através da outra, enquanto que pressiona a primeiro com um dedo, é também fácil de fazer.
Remédios de ervas para a remoção de ervas daninhas também estão à sua disposição, St John’s Worth é um tratamento natural eficaz para a depressão leve, enquanto que kava kava pode ajudá-lo a superar a ansiedade, por exemplo.
A raiz de valeriana é um outro tratamento natural, que parece ideal para a desintoxicação de maconha, já que reduz os sintomas de ansiedade e depressão, assim como a insônia que muitas pessoas que acabam de deixar as plantas sofrem. GABA (ácido gama-aminobutírico) é um aminoácido usado para o tratamento do abuso de substâncias e a ansiedade que está disponível tanto como um tratamento farmacológico e como um suplemento em lojas de alimentos saudáveis.
Qualquer um desses remédios naturais para desintoxicação de ervas daninhas pode apelar para você, o melhor é consultar o seu prestador de cuidados de saúde primários antes de usá-lo. Alguns interagem com outros medicamentos que você pode tomar.
Quem deve procurar ajuda profissional durante o retiro de maconha, e quais opções estão disponíveis?
Qualquer pessoa que tenha tentado parar de fumar sem sucesso uma série de vezes, que suspeita que tinham depressão pré-existente ou um transtorno de ansiedade antes de que começassem a fumar maconha, ou que apenas os seus sintomas de abstinência de maconha insuportável, você deve considerar seriamente a ajuda profissional.Se você suspeita que já tinha um transtorno de ansiedade subjacente ou estava sofrendo de depressão antes de começar a usar a erva, e fumar maconha era a sua forma de auto-medicação deste transtorno, deve saber que você não está sozinho, por qualquer meio. Neste caso, a melhor forma de combater a ansiedade e a depressão que está a sofrer durante o seu processo de remoção de maconha é estar completamente aberto sobre este fato.
Em lugar de se experimentar sintomas de abstinência de cannabis, pode estar vendo uma recorrência dos sintomas da sua depressão ou distúrbio de ansiedade. Receber um tratamento adequado, muitas vezes, uma combinação de farmacologia e terapia de conversa, é a melhor maneira de se livrar de sua ansiedade ou depressão.
Síndrome de abstinência de maconha pode ser curada sem medicamento?
"Sou músico, fumei maconha durante 25 anos, resolvi parar, queria uma vida limpa. Como tinha síndrome de abstinência e muita ansiedade meu médico me indicou o remédio psicosedin. Já faz 2 anos que eu não fumo mais e perdi totalmente a vontade de fumar, o meu mal-estar causado pela síndrome de abstinência controlo tomando um ansiolítico.Eu tomo um comprimido chamado psicosedin 10mg todos os dias antes de dormir, já faz quase 2 anos. Com a orientação do meu médico fui diminuindo a dose do remédio gradualmente com intenção de largá-lo, mas infelizmente não consegui ficar sem tomá-lo, pois os sintomas da síndrome de abstinência voltaram.
" O que eu faço?"
Resposta: A maconha é de longe a substância ilícita mais abusada em vários países ocidentais. Embora seja bastante comum o público leigo acreditar que o risco da indução de quadros de dependência por maconha seja pequeno. Entre os usuários crônicos é clinicamente frequente o vislumbre de quadros de síndrome de abstinência franca.
Os sintomas dessa síndrome incluem ansiedade, irritabilidade, dores abdominais, perturbação do sono, desconforto físico geral, grande desejo de voltar a usar a droga (fissura ou craving). De fato, qualquer síndrome de abstinência, devido ao inerente desconforto ou sofrimento físico e/ou psíquico, representa um notável empecilho para a manutenção da retirada da substância e, consequentemente, para o sucesso terapêutico.
Apesar de ser a substância ilícita mais comumente abusada, não existem no momento medicações comprovadamente eficazes para o manejo clínico da Síndrome de Abstinência de Maconha. Contudo, pesquisas têm sido constantemente desenvolvidas para a avaliação de novas propostas medicamentosas que possam reduzir os sintomas da síndrome de abstinência de maconha, com o máximo de segurança terapêutica possível.
Mais recentemente, pesquisas envolvendo modelos animais (por exemplo, com ratos que se tornaram experimentalmente dependentes de maconha) têm revelado algumas novas propostas farmacológicas para o combate dos sintomas da síndrome de abstinência da maconha. Porém, repito, ainda em nível experimental. No cérebro, existe o sistema neuroquímico conhecido como endocanabinoide, consistindo tanto em repectores quanto em substâncias endógenas (produzidas pelo próprio organismo), que reconhece a maconha utilizada e produz diferentes ações intra e extraneuronais. As propostas farmacológicas mais atualmente estudadas têm envolvido enzimas que degradam os endocanabinoides endógenos, revelando relativo sucesso experimental.
De qualquer forma, apesar dos esforços de pesquisadores, ainda não temos quaisquer medicações aprovadas para prescrição durante a fase de retirada da maconha. Assim sendo, outras medicações, chamadas sintomáticas, são comumente prescritas na prática clínica diária para ajudar o paciente motivado a controlar os sintomas desconfortáveis resultantes da cessação do consumo da droga. Algumas dessas medicações têm sido os benzodiazepínicos e os antidepressivos, que sempre devem ser prescritas com rigor, cautela e acompanhamento médico intensivo.
Tratamento psicoterapêutico é necessário.
Seguramente, o paciente dependente de maconha deve estar inserido em tratamento psicoterapêutico durante todas as fases do acompanhamento médico. As medicações sintomáticas devem, nesse caso, funcionar como adjuvantes ao tratamento psicoterapêutico, principalmente do tipo comportamental, e não como a única forma de abordagem médica.Você tem usado benzodiazepínico há cerca de 2 anos, sem conseguir interromper a medicação. Você deve procurar o médico para avaliar o seu quadro e determinar o que de fato está acontecendo. Caso você padeça de algum outro problema que dificulte a interrupção do consumo dessa medicação, você deverá ser adequadamente tratado.
Efeitos da maconha no cérebro.
Essa não é uma discussão política nem apaixonada sobre a proibição ou legalização da maconha. Vamos questionar e debater apenas saúde.
O objetivo de escrever essa revisão científica, dos efeitos psicoativos e comportamentais do uso da maconha, foi melhorar a qualidade das informações dos profissionais de saúde mental no Brasil e por conseqüência um público maior que eventualmente possa interessar-se por esse assunto. Nosso foco foi nos efeitos da maconha no cérebro.
Evitamos o debate sobre a legalização dessa substância. Achamos que seria útil separarmos a questão da legalidade da questão da saúde. Como profissionais da saúde mental temos uma maior familiaridade com a metodologia e a ciência do comportamento e achamos que poderíamos contribuir nessa nossa área de especialização.
A lista dos autores dos textos completos relacionados a esse resumo estão no final. Os respectivos textos estão disponíveis no site da ABP.
Como é o consumo de maconha no Brasil ?
Temos um estudo muito importante, feito pelo CEBRID, que abrangeu todas as cidades com mais de 200 mil habitantes, num total de 107 cidades, que responde em parte, sobre o consumo de maconha no Brasil. O uso na vida, no total, exceto tabaco e álcool, foi de 19,4%, sendo a maconha a droga que teve maior uso experimental com 6,9%. As comparações do uso na vida de maconha, nas cinco regiões brasileiras foram semelhantes para três das regiões – Norte, Nordeste e Centro-Oeste com cerca de 5%. A região Sul foi à campeã em porcentagens de uso na vida para a maconha com 8,4% de usuários. A dependência de maconha apareceu em 1,0% dos entrevistados, o que equivale a uma população estimada de 451.000 pessoas. A região Sul foi aquela onde apareceram as porcentagens mais expressivas de dependentes de maconha 1,6% dos entrevistados.Em relação a outros países o uso na vida de maconha, no Brasil (6,9%) foi próximo aos resultados da Colômbia (5,4%) e Alemanha (4,2%), porém muito abaixo do observado nos EUA (34,2%), Reino Unido (25,0%), Dinamarca (24,3%), Espanha (19,8%), Chile (19,7%), Holanda (19,1%), Grécia (13,1%) e Suécia com 13,0% (Ospina,1997; CONACE, 2001; E.M.C.D.D.A., 2001; SAMHSA, 2001).
O consumo de maconha está aumentando no Brasil ?
Temos poucas evidências sobre a evolução do uso de maconha na sociedade brasileira. Dados do CEBRID em 10 capitais, onde foram realizados levantamentos anteriores entre estudantes, pode-se notar que a tendência par o uso na vida (pelo menos uma vez na vida) foi de aumentar em oito capitais, exceto em Brasília e Salvador. Porcentagem de entrevistados relatando uso na vida de maconha nos quatro levantamentos realizados pelo CEBRID, entre estudantes do ensino fundamental e médio, de dez capitais brasileiras (1987, 1989, 1993, 1997 e 2004). Em média passou de 2,6 em 1987 para 6,5 % em 2004.A comparação do uso na vida de maconha entre meninos em situação de rua cresceu em São Paulo de 43,7% em 1987 para 73,8% em 2003.. No Rio de Janeiro também houve crescimento de 20% em 1993 para 59,3% em 2003 e em Brasília foi de 21,9% (1997) para 52,3% no ano de 2003 (Noto et al., 2004). Por outro lado, houve diminuição do uso na vida em Porto Alegre passando de 29,3% em 1987 para 21,3% em 2003. Em Fortaleza o uso se manteve estável.
Por outro lado, em relação aos indicadores epidemiológicos houve aumento das apreensões de maconha feitas pela Polícia Federal na comparação entre os anos de 1999 e 2004 e diminuição das internações hospitalares por maconha com 2,3% das internações por dependências, em 1988 caindo para 1,3% em 1999.
O consumo de maconha está aumentando no mundo?
A maconha é a substância ilícita mais consumida nas sociedades ocidentais. Três questões referentes ao consumo de maconha são discutidos atualmente: o início do consumo na adolescência; a potência das novas apresentações de canabis e o aumento da prevalência do uso.Segundo a UNODC – ONU, havia 161 milhões de usuários de maconha no mundo (10% a mais em relação a 2003). Por outro lado, o consumo se mostrou estável em tradicionais nações consumidoras, como Estados Unidos, Austrália e Canadá. O Observatório Europeu para Toxicodependências (EMCDDA), sugere que, durante a década de 90, o consumo de maconha aumentou consideravelmente em muitos países europeus mas pode, agora, estar começando a estabilizar, pelo menos em alguns países. O consumo possivelmente aumentou entre os adolescentes na maioria dos países, cujo período formativo os tornam mais propensos às complicações crônicas do consumo dessa substância.
Maconha: formas de uso e modificações genéticas da planta.
A maconha é uma mistura de folhas e flores verdes ou secas de uma planta chamada Cannabis sativa. Existem mais de 200 termos ou gírias para maconha, incluindo “baseado” ou “erva” . Ela é normalmente fumada como um cigarro ou em um cachimbo especial.Atualmente a maconha vem sendo consumida também de maneira “mesclada”, combinada com outras drogas, como o crack e cocaína. Alguns usuários também misturam a maconha com comida ou fazem chá de suas folhas.
O princípio ativo da maconha é o THC (delta-9-tetrahydrocannabinol). A quantidade de THC em uma dose pode variar intensamente de acordo com a procedência da droga e a forma como é consumida. Nos últimos 20 anos, a sofisticação do cultivo da maconha com técnicas hidropônicas tem aumentado muito a potência de todos os derivados da Cannabis.
Nos anos 60 e 70 um cigarro comum de maconha continha cerca de 0,5 a 1% de THC, atualmente um baseado feito de skankweed ou netherweed (sub-espécies de Cannabis Sativa) pode conter cerca de 20-30%. Assim, o usuário contemporâneo de maconha na forma fumada, pode estar exposto a doses cerca de 15 vezes mais fortes de THC que os jovens dos anos 60 e 70.
Este fato pode ser bastante relevante se considerarmos que os efeitos do THC no cérebro variam de acordo com a dose consumida, e que grande parte dos estudos com maconha foram realizados na década de 70, utilizando doses de 5 a 25 mg de THC, o que torna obsoleto muito do que se acreditou sobre os riscos e conseqüências da maconha.
A maconha no Sistema Nervoso Central
Existem dois subtipos de receptores canabinoides (CB1 e CB2) identificados até a presente data. Novas descobertas sugerem a existência de em terceiro receptor (“CB3”) que seria sensível a estimulação da anandamida, mas que não seria ativado pelo THC.Sabe-se que o THC não é uma substância encontrada naturalmente no cérebro, e a existência de um receptor canabinoide implica na existência de uma substância endógena semelhante ao THC, que demoninou-se anandamida. O receptor CB1 pode ser encontrado em altas concentrações no hipocampo, cortex pré frontal, cerebelo e gânglios basais, o que estaria relacionado com os efeitos do THC na memória e cognição. Uma vez acoplado ao seu receptor, o THC desencadeia uma série de reações celulares, estimulando estas áreas do cérebro e provocando as sensações que os usuários qualificam como prazerosa.
O Sistema Canabinóide Endógeno
O mecanismo de ação do delta 9-tetrahidrocanabinol (principal responsável pelos efeitos da Cannabis sativa) e das substâncias químicas ou farmacologicamente semelhantes a ele (denominadas canabinóides) permaneceu obscuro até o final da década de 1980. Nesta época, um receptor específico para os canabinóides foi identificado no cérebro de mamíferos.Nos anos seguintes, foram identificados os ligantes endógenos para esse receptor, os endocanabinóides.
Há diversos mecanismos pelos quais se pode intervir farmacologicamente no sistema canabinóide endógeno. Dentre eles estão os agonistas de receptores canabinóides e os inibidores de captação ou metabolismo dos endocanabinóides.
Substâncias que atuam por estes mecanismos apresentam potencial para tratamento de dor, depressão, transtornos de ansiedade generalizada e estresse pós-traumático. Além disso, antagonistas de receptores canabinóides apresentam potencial no tratamento de tabagismo, obesidade, dentre outros.
Sendo um sistema de transmissores descoberto relativamente há pouco tempo, muitos aspectos estão por serem esclarecidos.
O entendimento dos mecanismos de ação dos canabinóides e da fisiologia deste sistema poderá aumentar a nossa compreensão da neurobiologia de alguns transtornos neuropsiquiátricos, o que poderá permitir o desenvolvimento de novas e mais eficazes terapias psicofarmacológicas.
Este é um dos mais recentes sistemas de neurotransmissores descobertos, ainda havendo muitos aspectos a serem elucidados. Dentre estes se destacam: (i) os processos enzimáticos de síntese e inativação dos canabinóides; (ii) os efeitos dos canabinóides que parecem ser mediados por mecanismos independentes dos receptores CB1 ou CB2; (iii) identificação de um possível receptor “CB3”. Além disto, a maior compreensão das interações dos endocanabinóides com outros sistemas, como opióides, dopamina, GABA e glutamato parece necessária e oportuna.
Assim, este melhor entendimento dos mecanismos de ação dos canabinóides e da fisiologia deste sistema, poderá aumentar a nossa compreensão da neurobiologia de alguns transtornos neuropsiquiátricos, o que poderá permitir o desenvolvimento de novas e mais eficazes terapias psicofarmacológicas.
Maconha e Síndrome de Abstinência
Por muitos anos acreditou-se que o uso de maconha não desenvolvia tolerância e não levava à síndrome de dependência. Verificou-se mais tarde que em alguns casos existia sim a tolerância, mas seus efeitos eram fracos.A partir de meados da década de 70, evidências de desenvolvimento de uma marcante tolerância a vários efeitos da maconha emergiram em diversos estudos com animais e, posteriormente, em humanos. Na cessação do uso, os animais tolerantes que tiveram o receptor canabinóide tipo 1 (CB1) bloqueados apresentaram sinais e sintomas de abstinência, decorrentes de processos moleculares também afetados por outras drogas.
A síndrome de abstinência de maconha em humanos tem sido descrita por sintomas que se iniciam já nas primeiras 24 horas após a cessação do uso, apresentando-se por meio de sintomas inicialmente emocionais e depois comportamentais.
São eles: sintomas:
Irritabilidade, ansiedade, agressividade, angústia, agitação psicomotora, diminuição do apetite e perda de peso; alterações do sono como insônia e pesadelos; cansaço; desconforto generalizado com dores musculares, cefaléia e taquicardia e “fissura”. A gravidade da síndrome foi maior naqueles que tinham também outros transtornos psiquiátricos e uma freqüência grande de consumo.Mais recentemente, com o aumento do consumo e dos problemas relacionados, dos casos de dependência, da descrição de um sistema canabinóide endógeno e do desenvolvimento de antagonistas canabinóides, começaram a ser desenvolvidos estudos melhor controlados e com maior rigor metodológico. Esses novos estudos têm evidenciado uma significativa prevalência de síndrome de abstinência entre os usuários de maconha
Existe uma dependência da maconha ?
Nos EUA houve um aumento significativo das taxas de usuários nocivos e dependentes entre os usuários de maconha entre os anos de 1991-1992 e 2001-2002 (30,2% e 35,6%, respectivamente). Este aumento pode estar relacionado, em parte, ao aumento do potencial adictivo da maconha, ou seja, houve um amento de 66% no teor de THC na amostra de maconha analisada em 2001-2002 (5,11%) comparativamente a de 1991-1992 (3,01% de THC).Num estudo prospectivo, iniciado em 1970, com acompanhamento por 12 anos, mostrou-se que 1 em cada 4 usuários de maconha desenvolveram síndrome de dependência no período compreendido entre a adolescência e a idade adulta jovem.
Já descrevemos evidências de uma Síndrome de abstinência da maconha, mas também acumulam-se evidencias de tolerância a mesma através de estudos em animais e em humanos. Gatley e Volkow (1998) mostraram, em animais, que a administração crônica de canabinóide resultou no desenvolvimento de tolerância em relação aos efeitos agudos, incluindo os efeitos motores. Em relação aos seres humanos os sinais de aumento de tolerância são bem documentados e, regra geral, aparecem com doses acima de 3mg/kg/dia.
Outros critérios aceitos para o diagnóstico da Síndrome de dependência da maconha, e evidenciados em estudos populacionais, são:
• A substância é consumida com freqüência em quantidades maiores ou durante períodos mais longos do que se pretendia (consumo maior que o pretendido);
• Existe um desejo persistente ou esforços sem sucesso para eliminar ou controlar o uso da substância (tentativas frustradas de interrupção do uso);
• Uma grande quantidade de tempo é despendida nas atividades necessárias para obtenção da substância, no uso e na recuperação de seus efeitos (tempo gasto com a droga);
• Existe o abandono de importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreacionais em função do uso da substância (droga como prioridade);
• O uso da substância é continuado, apesar do conhecimento de ser um problema persistente ou recorrente físico ou psicológico que tenha sido causado ou exacerbado pela substância (uso da droga a despeito dos problemas por ela causados).
Embora seja clara a evidência de uma Síndrome de Dependência da Maconha nem todo usuário tende a desenvolvê-la. Ainda que haja extenso debate sobre a existência de uma Síndrome de Dependência da Maconha, não se pode negar que se acumulam inúmeras evidências da mesma.
Maconha e Adolescência
Os fatores de risco e de proteção para o uso, abuso e dependência de maconha na adolescência são elementos fundamentais para a elaboração de ações preventivas. O uso de álcool, cigarro de tabaco e outras drogas psicotrópicas, a delinqüência e problemas escolares são fatores de risco, enquanto a crença religiosa e certas características da família são fatores de proteção.Quanto mais precoce o uso, maior o comprometimento do adolescente. A avaliação inicial ideal deve utilizar um sistema multi-axial e ser aplicada por profissional habilitado na área de avaliação e tratamento de crianças e adolescentes, em função das peculiaridades psiquiátricas e emocionais que ocorrem nessa etapa do ciclo vital.
A maconha atrapalha o desenvolvimento do adolescente?
Adolescência é um importante período de transição para idade adulta. O uso constante de maconha neste período pode interferir no desempenho escolar, no relacionamento com os amigos, vida sexual, na escolha da profissão e no estilo de vida que o jovem adota.Alguns estudos vem demonstrando que há uma ligação entre o uso de maconha e precoce transição, e muitas vezes atrapalhada, para o papel de adulto no que se refere a sair da casa dos pais, iniciar da vida sexual e gravidez.
Em um estudo de 2003 que comparou adolescentes usuários pesados de maconha (mais de 18.000 vezes na vida) com grupo de usuários leves (menos de 50 vezes na vida) encontrou evidências de que os usuários pesados apresentavam conhecimentos adquiridos, nível de formação e salários inferiores ao dos usuários leves.
Em outro estudo recente mostrou-se que o uso precoce de maconha aumenta as chances de adolescentes adotarem um estilo de vida não-convencional, ou seja, se desengajarem de papéis convencionais como completar educação formal, arrumar emprego, participar de práticas religiosas e esportivas. Assim, as indicações mostram que o uso de maconha na adolescência afeta, adversamente, o desenvolvimento do adolescente.
Vale a pena ressaltar que quando o uso da maconha ocorre na adolescência, principalmente antes dos 17 anos, os prejuízos por ela ocasionados são dose-relacionados, ou seja, quanto maior a dose maiores os efeitos e problemas.
Quando o uso passa a ser regular percebe-se que ela é uma droga, que causa dependência, podendo levar à escalada de experimentação de outras drogas, além de favorecer o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos na adolescência e fase adulta. O uso de maconha por adolescente tem impactos psicológicos, biológicos, sociais e legais que levam ao comprometimento do desenvolvimento do futuro adulto.
O uso de maconha aumento o risco de transtornos mentais ?
O uso de cannabis está associado a maiores riscos de transtornos pelo uso de outras substâncias e está associado a diferentes comorbidades psiquiátricas na população geral. As associações mais importantes entre o uso de cannabis e problemas de saúde mental aparecem quando há uma combinação de fatores individuais constitucionais e efeitos da droga.Há uma associação consistente entre o uso de cannabis e primeiro surto psicótico em indivíduos mais jovens. O uso de cannabis aumenta o risco de incidência de esquizofrenia em indivíduos com e sem outras fatores predisponentes e leva a um pior prognóstico para aqueles indivíduos com clara vulnerabilidade para um transtorno psicótico.
Há poucas evidências de associação entre uso infrequente de cannabis e diagnóstico de depressão.Uso pesado de cannabis e depressão parecem associados, sendo sugestivo de que uso pesado pode aumentar sintomas depressivos em alguns usuários.
Maconha e Depressão
A associação entre maconha e depressão tem sido demonstrada em diversos estudos transversais, mas ainda não há um consenso se existe uma relação de causa e efeito entre estes elementos. Evidências sugerem que usuários de maconha sem sintomas depressivos apresentam um risco aumentado de apresentá-los no futuro, ao contrário de estudos com indivíduos deprimidos que não apresentam risco aumentado de consumo de maconha. Estudos com gêmeos sugerem que, ao menos em parte, a comorbidade seja explicada por vulnerabilidade genética comum para os dois transtornos. Portanto, a maconha seria um fator de risco para o desenvolvimento de sintomas depressivos.Existe uma relação entre Maconha e Esquizofrenia?
Vários estudos examinaram a relação entre o uso de maconha e a esquizofrenia a partir de evidências recentes provindas de estudos clínicos e epidemiológicos. Estudos clínicos monitorando portadores de esquizofrenia demonstram uma relação entre o consumo de maconha e a exacerbação dos sintomas psicóticos, pior resposta à medicação antipsicótica, e um pior curso clínico da doença (mais hospitalizações, mais recaídas e pior aderência ao tratamento).
Quatro grandes estudos prospectivos em três países acharam uma associação entre o consumo de maconha e o risco de desenvolver esquizofrenia ou sintomas psicóticos. Esta associação é mais intensa em sujeitos que utilizaram maconha antes dos 15 anos de idade e com história de sintomas psicóticos.
Em conjunto, os achados sugerem que a maconha pode precipitar um quadro de esquizofrenia em indivíduos vulneráveis e exacerbar quadros psicóticos em portadores de esquizofrenia.
USO DE MACONHA E ANSIEDADE
O relato de ansiedade constitui o sintoma adverso mais comum após o uso agudo da maconha e sintomas ou transtornos de ansiedade co-ocorrem muito freqüentemente em usuários da droga. Paradoxalmente indivíduos relatam a redução de ansiedade como motivação para o uso da maconha.Estas constatações conflitantes poderiam ser explicadas pela observação de que os efeitos do principal constituinte ativo da cannabis (Δ9-THC) sobre a ansiedade parecem ser dose-dependentes, com baixas doses demonstrando propriedades ansiolíticas e doses mais altas sendo ansiogênicas. Além disto, os outros canabinóides presentes na planta influem em sua atividade e um deles, o canabidiol apresenta propriedades ansiolíticas.
TDAH e Maconha
O TDAH é o mais comum dos transtornos emocionais, cognitivos e do comportamento tratados na infância. Sua prevalência é significativa: atinge de 4% a 12% das crianças em idade escolar e até 5% dos adultos. E está relacionado a uma elevada taxa de comorbidade psiquiátrica, principalmente transtorno desafiador opositivo, transtorno de conduta, transtornos do humor e de ansiedade, e tabagismo e abuso de substâncias.
O custo social do TDAH não tratado ao longo da vida é considerável, e inclui baixo aproveitamento acadêmico, problemas de conduta, subemprego, acidentes automobilísticos, problemas de relacionamento.
A presença de TDAH dobra o risco para o desenvolvimento de abuso/dependência de substâncias ao longo da vida, e ambos os transtornos influenciam-se mutuamente, o que traz implicações para o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento de ambos os transtorno.
A maconha é a droga ilícita com maior freqüência de abuso entre portadores de TDAH. Adultos jovens portadores de TDAH relatam um efeito calmante proporcionado pela maconha, reduzindo sua inquietação interna. Este efeito reforça a hipótese da automedicação dos sintomas de TDAH como um fator de risco para o desenvolvimento de abuso/dependência de drogas.
Intervenções farmacológicas e cognitivo-comportamentais ora em uso constituem um tratamento efetivo para o TDAH e dependência da maconha e ajudam os pacientes a superarem os obstáculos em direção a um funcionamento normal.
Maconha e Dirigir Automóveis
Pelas evidências apresentadas até agora na literatura, não há unanimidade sobre a real contribuição da maconha, quando consumida sem associação com álcool e outras drogas, no aumento do risco de causar acidentes de trânsito. Sabe-se que a associação do consumo de maconha e acidentes de trânsito é freqüente e que as propriedades farmacológicas dessa substância dificultam habilidades básicas para dirigir-se com segurança.Os estudos também parecem apontar que pessoas com um consumo freqüente de maconha têm uma probabilidade maior de causar acidentes.
No entanto, ainda persistem algumas dificuldades metodológicas. Por exemplo, a utilização de critérios discutíveis sobre a presença recente da droga, o freqüente consumo pelos sujeitos da maconha juntamente com álcool e outras drogas (difícil separar o que é o efeito de cada substância), a falta de inclusão nas análises de fatores confundidores que poderiam explicar as associações encontradas.
Essa metodologia é relativamente recente, no que diz respeito ao uso de maconha, e é provável que estudos futuros possam encontrar melhores caminhos.
O que fica claro é que a relação do consumo de maconha com direção não é simples e certamente não pode ser descartada. Como um exemplo dessa complexa relação, estudos recentes investigaram preditores do comportamento de dirigir arriscadamente (dirigir muito rápido pelo prazer, expor-se a riscos na direção por diversão, etc.) em um estudo longitudinal com adolescentes e jovens adultos.
Entre as variáveis explicativas desses comportamentos estavam certas características de personalidade e a dependência de maconha.
Estudos com terapias psicológicas e usuários de maconha
As evidências mostram que as intervenções breves funcionam: além dos estudos específicos com maconha, a literatura mostra que tratamentos breves são tão eficazes quanto os mais longos com dependentes de álcool e outras drogas.Porém, vale termos em mente que tratamento breve é com tempo limitado (indicam para tratamentos de 6 e 9 sessões como mais efetivos que 1 ou 2 sessões) e que a duração do tratamento deve ser proporcional aos objetivos deste (se o objetivo é sensibilizar, uma sessão pode ser suficiente).
Se a terapia é breve, ela deve ser administrada individualmente. Mais um fator que vai a favor da terapia individual é o fato de que com pacientes jovens, a influência grupal pode ser nociva e ao se tratar de usuários de maconha, geralmente falamos de jovens.
Quanto ao conteúdo da terapia, a literatura é extensa no que se refere à comprovada eficácia de abordagens como a Entrevista Motivacional e Prevenção de Recaida, além da importância comprovada do aspecto “dar informação” sobre as drogas para os usuários das mesmas, que geralmente chegam com idéias distorcidas sobre os efeitos reais da droga, sejam eles positivos ou nocivos.
A literatura mostra que, quanto mais especifico é o tratamento para determinada população, mais altos os índices de sucesso. Daí se justificar uma intervenção específica para usuários de maconha. Seria interessante investir em formar profissionais de base (enfermeiros, por exemplo) que disseminassem este tipo de trabalho e iniciassem um processo de sensibilização em pessoas com problemas de abuso de substâncias.
Esse seria o primeiro passo para a indicação de profissionais especializados, tendo em vista que uma das maiores dificuldades de engajamento e efetividade de tratamentos para dependência seja a falta de motivação. Um último fator interessante é que os usuários de maconha têm uma tendência maior a diminuir o consumo do que parar completamente. Por um lado, comprova-se o fato de que, em estudos de efetividade de tratamento para uso de substâncias, a abstinência não deve ser o único critério de sucesso.
Terapia Farmacológica
Percebe-se que a evidência científica disponível atualmente não é sólida o bastante a fim de permitir a indicação de uma medicação efetiva capaz de atuar nos principais objetivos já citados para o tratamento medicamentoso de usuários de canábis.A pesquisa clínica da farmacoterapia para dependência de maconha permanece ainda na “sua infância”. Algum potencial de utilidade parece existir entre os antidepressivos e os medicamentos ansiolíticos no tratamento da dependência desta droga.
Porém, mais estudos controlados são necessários antes que qualquer conclusão ou recomendação possa ser feita. Agentes que visem os receptores canabinóides também podem mostrar-se úteis, mas novamente não foram explorados suficientemente.
Embora poucos estudos do tratamento para o abuso e a dependência de maconha tenham sido finalizados, os relatos iniciais sinalizam alguns tratamentos que podem ser promissores e demonstram a necessidade do desenvolvimento de mais pesquisas e busca de intervenções efetivas.
Maconha e Funções Cognitivas
A cognição se refere a habilidade de pensar. Os processos cognitivos incluem desde a percepção visual, auditiva e tátil de todos os elementos que nos cercam, à atenção sustentada a determinada tarefa, à memória, julgamento, capacidade de resolver problemas e funções executivas (estabelecimento de objetivos, capacidade de planejamento, iniciativa, controle dos impulsos, monitoramento, avaliação de riscos, consequências do comportamento e flexibilidade mental).Os problemas cognitivos são muito comuns nos indivíduos acometidos por lesões neurológicas, quer seja por trauma, doença vascular, infecciosa, dependendo da localização e da gravidade da lesão. De forma semelhante, a exposição do cérebro a agentes químicos neurotóxicos, como a maconha, também afeta o funcionamento cognitivo dos indivíduos.
O uso da maconha é muito difundido no Brasil e no mundo. Entretanto, pouco se sabe sobre as conseqüências deste problema em longo prazo. Embora os estudos mais antigos tenham sido inconclusivos, as pesquisas mais recentes têm demonstrado alterações no funcionamento cerebral e neuropsicológico dos usuários crônicos de maconha, mais especificamente em atenção, memória, aprendizagem, funções executivas, tomada de decisões, funcionamento intelectual e funções psicomotoras, mesmo após um mês de abstinência.
Problemas no funcionamento neuropsicológico, especialmente das funções executivas, mediadas pelas regiões pré-frontais do cérebro, podem influenciar negativamente na motivação para o tratamento e aderência ao programa de recuperação, aumentando as chances de recaída. Apesar dos avanços alcançados, são necessárias mais pesquisas em neuropsicologia, que possam auxiliar na melhor compreensão das conseqüências deletérias do uso crônico da cannabis e suas repercussões no tratamento.
Maconha e efeitos na gravidez
Apesar do pequeno número de estudos que avaliam o efeito do consumo de maconha pela gestante no comportamento de seus filhos, de maneira geral, os recém-nascidos apresentam tremores e startles com maior freqüência, além de menor capacidade de habituação e orientação aos estímulos externos e alterações no padrão de sono.No entanto, esses achados não são uniformes e há controvérsia no que se refere ao uso de maconha pela gestante e os possíveis efeitos neurocomportamentais imediatos.
Em prazos mais dilatados, os poucos estudos publicados têm mostrado resultados mais consistentes no que se refere a alterações sutis no desempenho de tarefas que dependem de funções corticais superiores, em crianças de até dez anos expostas intra-útero à maconha, indicando um possível sítio cerebral de ação específico da droga durante o período de crescimento e organização da arquitetura cerebral, na vida fetal.
Até o presente momento, os dados demonstram uma associação, mais do que uma relação de causa-efeito, entre o uso de drogas na gestação e a morbidade perinatal, devendo-se continuar as pesquisas, controlando-se as variáveis de confusão, tais como consumo de várias drogas de forma concomitante, para poder conhecer melhor os efeitos do uso da maconha na gestante, na evolução da gravidez e no concepto.
Genética e uso de maconha
Os estudos genético-epidemiológicos têm demonstrado que quadros de uso nocivo e de dependência à maconha apresentam um componente genético no seu desenvolvimento.Entretanto, algumas questões ainda precisam ser esclarecidas, tais como: se a vulnerabilidade genética é específica à maconha ou se é geral para às drogas de abuso como um todo; ou ainda se existe um componente genético específico que possa também estar associado (como fator de risco) para o aparecimento ou piora do prognóstico em outros transtornos psiquiátricos.
Os estudos genético-moleculares começaram a ser realizados, com o objetivo de melhor compreender a participação dos genes nesses processos. Porém, tais estudos são recentes e ainda em pequeno número, não dispondo de dados conclusivos até o momento. Com o enorme progresso na área da biologia molecular, a expectativa é de identificar os genes de vulnerabilidade para o abuso de maconha em um futuro próximo.
As pessoas que tentam parar de fumas maconha sentem os mesmos sintomas de abstinência quando alguém para de fumar, de acordo com um estudo australiano.
Cientistas descobriram que quando os usuários regulares de maconha foram convidados a deixar o hábito por duas semanas, eles sofreram uma variedade de sintomas que afetam sua capacidade no trabalho e na vida pessoal.
Entre os sintomas estão a irritabilidade, dificuldades para dormir, alterações no humor e a perda do apetite. Já os mais graves, como a depressão, afetam usuários que são mais dependentes da droga, de acordo com o Daily Mail.
O estudo, feito com 49 consumidores em busca de tratamento, mostrou que alguns sintomas que aparecem durante a abstinência podem levar o usuário a uma recaída.
De acordo com a revista Plos One, os investigadores explicam que a retirada da maconha altera o funcionamento do corpo que está ligado às atividades diárias normais, levando o usuário a uma recaída.
Cientistas descobriram que 1 em cada 10 usuários de maconha passam por experiências desagradáveis, como confusões, alucinações, ansiedade e paranoia. O uso a longo prazo pode causar a perda da motivação e a depressão.
Outras pesquisas recentes mostram que a droga pode ser uma das principais causas de doenças psicóticas, como a esquizofrenia em pessoas que são geneticamente vulneráveis à doença.
Desintoxicação de maconha
Embora algumas pessoas consigam abandonar a maconha sem passar por um tratamento ou programa de recuperação, o acompanhamento por especialistas e programas adequados ainda é necessário. A pessoa que consegue para sozinha, sofre mais por não conhecer os sintomas de abstinência e não aprender a lidar com os fatores psíquicos e emocionais que envolvem a dependência.
Desintoxicação de maconha
O processo de recuperação sob a orientação de um especialista e de um programa eficiente proporciona ao dependente melhor qualidade de vida e pode evitar que ele venha a ter recaídas por não suportar os sintomas de abstinência e desintoxicação.O que é desintoxicação?
A maconha provoca alterações no funcionamento do sistema nervoso central, produzindo efeitos colaterais que para os usuários são sensações de bem-estar. Quando o usuário interrompe o uso inicia-se o processo de desintoxicação da maconha, ou seja, o processo de limpeza física e mental. Muitos usuários de maconha ficam agressivos após a suspensão do uso, mas isso faz parte dos sintomas de abstinência e do processo de desintoxicação.
É importante saber que alguns especialistas aderem o uso de medicamentos como antidepressivos, ansiolíticos, entre outros, para ajudar o paciente a superar os sintomas de abstinência, mas existem programas de recuperação que buscam tratar da pessoa como um todo e não só dos sintomas.
Os medicamentos amenizam os sintomas, mas não recuperam a pessoa, além de correr o risco de adquirir a dependência de medicamentos, que a longo prazo, pode provocar efeitos colaterais e outros distúrbios e doenças, como por exemplo, a depressão.
Quando a pessoa usa medicamentos ela desintoxica-se da maconha, porém intoxica-se com medicamentos, o que faz com que a pessoa substitua uma droga pela outra.
Doenças e transtornos correlacionados à dependência de maconha
De acordo com um estudo publicado pelo Jornal da Criança e do Adolescente e do Abuso de Substâncias, a predominância de transtornos coexistentes são comuns. Os pesquisadores descobriram que daqueles que entraram em um programa de tratamento para a dependência de maconha:74% tinham um transtorno de conduta;
77% tinham TDAH;
37,7% tinham depressão;
28,8% apresentavam distúrbios de ansiedade.
Há casos em que alguns dependentes de maconha apresentam diversos transtornos mentais, além da dependência, o que dificulta ainda mais a recuperação. Também há alguns casos que estes transtornos podem contribuir para a dependência.
Avaliar estes transtornos e as condições em que o dependente se encontra, pode ajudar a começar as terapias para aliviar os sintomas e a recuperar a pessoa.
O processo de desintoxicação física pode levar de uma a duas semanas, depende do tempo e frequência de uso, porém a desintoxicação psíquica pode levar meses, dependendo da evolução da pessoa no tratamento.
Os benefícios de programas de desintoxicação e recuperação da dependência de maconha
Sabe-se que a recuperação de qualquer dependência de drogas e álcool é difícil, umas mais e outras menos, mas que os sintomas de abstinência são fortes e comprometem a sanidade da pessoa e consomem muita energia.Por isso, um programa de recuperação através da internação torna-se cada vez mais benéfico, visto que, para um dependente é difícil recuperar-se em casa, pois o convívio com os amigos, lugares como bares e pontos de tráfico facilitam a volta ao uso.
A internação ajuda o dependente a se recuperar devido à abstinência forçada, ou seja, não há pessoas e ambientes facilitadores e situações de risco de recaída, e quando o dependente termina o tratamento, ela já passou pelo processo de desintoxicação e abstinência física, e pode retomar a sua vida limpo.
O programa de desintoxicação da maconha
O programa de desintoxicação não recupera a pessoa, é apenas o primeiro passo para a recuperação. Há dois tipos de desintoxicação, a física e a psíquica.A desintoxicação física:
Nesta fase não há mudança de comportamento e o dependente de maconha supera os sintomas mais críticos como, mal-estar, irritabilidade gerada pela falta da droga, insônia, entre outros. Estes sintomas podem durar além da fase de desintoxicação em determinados casos, o que exige que o dependente continue em observação e cuidados especiais.A desintoxicação psíquica:
A desintoxicação psíquica pode levar meses e até anos, e está relacionada com os transtornos de conduta e distúrbios mentais. É um processo lento e gradativo, que envolve longas sessões de terapia e acompanhamento. A desintoxicação psíquica só é eficiente mediante um programa de recuperação que busca tratar da pessoa à longo prazo.O programa de recuperação da dependência da maconha
É mais completo e eficiente que o programa de desintoxicação, por não tratar apenas dos sintomas e da desintoxicação física da pessoa. Os programas de recuperação buscam tratar dos transtornos mais enraizados no dependente, reconstruir certos comportamentos e permitir melhor qualidade de vida à pessoa.Para evitar recaídas o dependente de maconha deve continuar a manutenção da recuperação através de terapias pessoais e grupais, e outras ferramentas, como atividades esportivas, espiritualidade (conforme a sua religião).
Assim, aos poucos, o dependente vai desintoxicando-se dos velhos hábitos e comportamentos, além de recuperam a sua sanidade mental e emocional.
Os grupos de apoio podem ajudar o dependente na manutenção da sua recuperação, a fim de evitar recaídas, como por exemplo, os Narcóticos Anônimos.
Maconha e sintomas de abstinência
A Síndrome de Abstinência de Maconha
À Hipocrates (460-377 AC) foi atribuído o seguinte comentário: “Os homens sabem que do cérebro, e somente dele, vem os prazeres, as alegrias e os risos, assim como as dores, angústias e medos. Da mesma forma, sabem que ele nos faz loucos e delirantes, inspira medos e dúvidas, manifestados por comportamentos bizarros, automáticos e de risco” (Solowij, 2003).Estes últimos são a manifestação de um cérebro doente, podendo representar diferentes transtornos, agudos ou crônicos, tais como o abuso e a dependência de substâncias psicotrópicas. Os efeitos iniciais de uma substância psicotrópica mimetizam os prazeres, as alegrias e os risos descritos por Hipócrates, reforçando a continuidade do uso.
A dependência na fase inicial manifesta-se pelo desejo de sentir prazer, com um forte componente psicológico. A dependência crônica, geralmente relacionada à tolerância aos efeitos da droga, cursa com a necessidade de usar a substância para aliviar sintomas orgânicos desagradáveis que surgem ao se tentar interromper o uso.
Estes últimos caracterizam a síndrome de abstinência, um conjunto de sintomas e sinais que aparecem após a cessação do uso da substância. Esta, por sua vez, pode ser um reforço negativo para a continuidade do uso, na tentativa de amenizar os sintomas indesejados, que variam em intensidade, duração e gravidade para cada tipo de droga
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A síndrome de abstinência de maconha tem sido descrita por sintomas que desaparecem com a retomada do consumo da substância como: desconforto generalizado, “fissura”, diminuição do apetite, perda de peso, insônia, agressividade, irritabilidade, angústia, cansaço e sonhos estranhos. Esta síndrome fica muito mais clara se os indivíduos fazem uso pesado da droga (Watson et al., 2000; Budney et al., 2001).
Por muitos anos acreditou-se que o uso de maconha não desenvolvia tolerância e não levava à síndrome de dependência. Verificou-se mais tarde que em alguns casos existia sim a tolerância, mas seus efeitos eram fracos. A partir de meados da década de 70, evidências de desenvolvimento de uma marcante tolerância a vários efeitos da maconha emergiram em diversos estudos com animais e, posteriormente, em humanos.
(Compton, Dewey & Martin, 1990; Fehr & Kalant, 1983; Hollister, 1986; Jones, Benowitz & Herning, 1981).
Além disso, evidenciou-se que diante da cessação abrupta de altas doses de tetrahidrocanabinol (THC) produzia-se uma síndrome de abstinência semelhante àquela produzida por drogas sedativas de longa duração (Compton et al, 1990; Jones et al, 1981; Georgotas & Zeindeberg, 1979; Jones & Benovitz, 1976; Wikler, 1976).
Mais recentemente, vários estudos têm demonstrado a ocorrência de síndrome de abstinência a derivados canabinóides naturais e sintéticos. Estudos com o antagonista do receptor canabinóide CB1 SR141716A, demonstraram a precipitação não só de uma síndrome de abstinência em camundongos, como também evidenciou seu papel na modulação da síndrome de dependência de opiódes (Lichtman & Martin, 2002).
Ratos que receberam a maconha cronicamente apresentaram o fenômeno de neuroadaptação (tolerância) e desenvolveram a síndrome de abstinência (de Fonseca et al., 1997). Para estes animais, a administração de THC sintético (WIN 55,212) mostrou que na sua retirada aparecem sinais como balançar a cauda e a cabeça, tremores, e comportamento de coçar.
Da mesma forma, ratos e cachorros foram submetidos ao uso crônico de THC e ao receberem um antagonista (SR 141716A) apresentaram sinais semelhantes (Martin, no prelo). Em 1998, Rubino e colaboradores, estudando a evolução das alterações comportamentais e os aspectos bioquímicos da síndrome de abstinência de canabinóides em ratos tolerantes, após a administração do antagonista SR141716A, demonstraram uma síndrome de abstinência moderada caracterizada por movimentos mastigatórios, de cavar e aumento de locomoção.
Neste estudo os autores demonstraram que a dessensibilização do receptor canabinóide CB1 e do seu respectivo sistema de transdução encontrada nos animais tolerantes, estavam restabelecidas nos ratos abstinentes, sugerindo que este pode ser, em parte, o mecanismo molecular subjacente a dependência a canabinóides.
Mais tarde, em 2004, uma síndrome de abstinência espontânea foi demonstrada em um estudo com camundongos tratados com o agonista canabinóide CP-55,940 (Oliva et al, 2004). Esta síndrome de abstinência produziu alterações comportamentais e alterações a curto e em longo prazo na expressão gênica do receptor CB1 em várias áreas do cérebro. Anteriormente, Breivogel e colaboradores (2003) já haviam descrito a sensibilização de receptores CB1 no cerebelo, no córtex, no hipocampo e gânglios da base de ratos tratados com diferentes doses de delta-9-THC.
Nos anos 90, com os estudos sobre o sistema canabinóide em animais, as evidências de tolerância e dependência a maconha se comprovaram:
1) a exposição prolongada de animais a derivados canabinóides naturais ou sintéticos determinava a tolerância;
2) a tolerância é descrita como um fenômeno de neuroadaptação que pode induzir a dependência;
3) na cessação do uso, os animais tolerantes que tiveram o receptor canabinóide tipo 1 (CB1) bloqueados apresentaram sinais e sintomas de abstinência;
4) estes são decorrentes de processos moleculares também afetados por outras drogas; e,
5) por isso, no tratamento da dependência o sistema canabinóide deve ser contemplado (Gonzalez & Fernandez, 2005).
A evidência mais convincente de tolerância à maconha em humanos veio dos estudos de Jones e Benovitz (1976), sobre o efeito prazeroso subjetivo (“high”) e o efeito cardiovascular, nos quais foram utilizadas altas doses de THC.
Neste estudo, os autores descreveram a ocorrência de uma síndrome de abstinência iniciada, 6 horas após a interrupção do uso, com agitação, seguida após mais 6 horas de agitação psicomotora e insônia.
Em 1979, Georgotas & Zeidenberg também observaram tolerância aos efeitos subjetivos da maconha em 5 usuários sadios, que foram acompanhados por 4 semanas, durante as quais fumaram em média 10 baseados por dia.
Na primeira semana de retirada da maconha, os sujeitos tornaram-se mais irritados, não cooperativos, algumas vezes hostis, apresentaram redução do apetite e insônia. Estes efeitos desapareceram ao final da terceira semana de abstinência. Estudos que comprovaram a equivalência dos sintomas apresentados pelos animais após a cessação do consumo, com aqueles apresentados por seres humanos só apareceram mais tarde (Aceto et al., 1995; Tsou et al., 1995). Haney et al (1999a,b) compararam usuários pesados de THC oral ou fumantes de maconha com respectivos grupos controles (placebos) e demonstraram que a abstinência ao THC está associada com aumento da ansiedade, depressão e irritabilidade, em ambos os grupos experimentais.
No grupo que usou THC oral foi relatado decréscimo na qualidade e quantidade do sono e da ingesta de alimentos. Em outro estudo foi comparada a síndrome de abstinência entre usuários de THC oral e de maconha, tendo esta sido observada somente no grupo de fumantes (Hart et al, 2002).
Budney e colaboradores (1999) documentaram pela primeira vez em 54 adultos dependentes de maconha, com idade de 33,8±8 anos, por meio de questionário de 22-itens (Marijuana Withdrawal Symptom Checklist), os seguintes dados baseados no último episódio de abstinência: 57% experimentaram mais que 6 sintomas da síndrome de abstinência com gravidade moderada e 47% experimentaram mais que 4 sintomas graves.
A gravidade da síndrome foi maior naqueles que tinham também outros transtornos psiquiátricos e uma freqüência grande de consumo. O conjunto de sintomas e sinais apresentados foi compatível com aqueles observados em laboratório.
No mesmo ano, Haney e colaboradores (1999) observaram o desenvolvimento de tolerância já no 4º dia de consumo, em uma amostra de indivíduos que recebeu altas doses de THC. Este fenômeno foi relacionado a um efeito prazeroso logo após o uso, chamado “high”.
A síndrome de abstinência apareceu em consumidores de altas e baixas doses, em intensidade também variável sem referência a qualquer benefício com o uso. Outro estudo (Pope et al, 2003) comparou usuários diários de até 5000 vezes no período anterior à pesquisa, com aqueles que usaram apenas 50 vezes, mostrando que os usuários pesados obtiveram uma performance baixa em teste para a memória recente (recuperação da lista de palavras) do 1º ao 7º dia de abstinência, que melhorou ainda mais no 28º dia, pontuando abaixo do grupo controle (não usuários).
Aqueles que iniciaram o uso antes dos 17 anos, se comparados com aqueles que iniciaram depois (tardios), controlados os grupos para todas as variáveis que poderiam influenciar no resultado (idade, sexo, raça, características familiares), mostraram que a precocidade do consumo determinou problemas com a inteligência verbal também na abstinência. Gruber e colaboradores. (2003) também mostraram que usuários diários têm mais problemas que usuários esporádicos.
Com o aumento do número de usuários freqüentes ou diários, os problemas decorrentes também aumentaram, como o custo pessoal e social, assim como acontece com todas as outras drogas.
Apesar de ainda não ser aceita por alguns estudiosos, sintomas como ansiedade, fissura, insônia e inapetência, são relatados como parte do quadro da síndrome de abstinência da maconha, e considerados pelos usuários dependentes muito semelhantes aqueles da síndrome de abstinência do tabaco (Haney et al., 2001).
Esta comparação também é feita quando os usuários descrevem a dificuldade de controle do uso, a fissura, em decorrência da qual os usuários recaem e, conseqüentemente, aderem pouco ao tratamento. Um aspecto ainda controverso neste campo é a possibilidade de que os usuários crônicos poderiam ter um risco aumentado de consumir outras substâncias.
Em função das evidências e da relevância clínica da síndrome e do aumento do consumo, principalmente entre adolescentes, mais pesquisas têm sido estimuladas para o melhor entendimento do quadro e o tratamento mais adequado do paciente (Kouri & Pope, 2000).
Entretanto, muitos trabalhos realizados até o final da década de noventa foram alvo de críticas pela falta de consistência dos protocolos experimentais, persistindo questionamentos sobre a ocorrência de uma síndrome de abstinência (Smith, 2002; Martin, 2002). Mais recentemente, com o aumento do consumo e dos problemas relacionados, dos casos de dependência, da descrição de um sistema canabinóide endógeno e do desenvolvimento de antagonistas canabinóides, começaram a ser desenvolvidos estudos melhor controlados e com maior rigor metodológico.
Esses novos estudos têm evidenciado uma significativa prevalência de síndrome de abstinência entre os usuários de maconha (Budney et al., 2001). Em recente revisão sobre a validade e significância da síndrome de abstinência a maconha, Budney e colaboradores (2004) concluem que os estudos mais recentes, tanto em animais como em humanos sob regime de tratamento ambulatorial ou hospitalar, têm sido realizados com rigorosos critérios científicos metodológicos, corroborando a existência da síndrome de abstinência a maconha com relevante importância clínica e sugerem que esta seja incluída na próxima revisão do DSM.
Assim como a do tabaco e de outras substâncias de abuso, a síndrome de abstinência da maconha aparece entre o 1º e 3º dias após a cessação (fase inicial), chega ao máximo da intensidade entre o 2º e 6º dias, continuando por até 15 dias com menor intensidade do quadro.
Cada substância psicotrópica tem uma forma de interagir com o sistema nervoso e a complexidade desta interação determinará todos os fenômenos que dela decorrem. Isto talvez explique a semelhança entre os sintomas e sinais da abstinência da nicotina e da maconha, ambas utilizadas pela mesma via de administração e também com receptores cerebrais endógenos específicos, onde se ligam diretamente (Budney et al., 2003; Vandrey et al., 2005a; Vandrey et al, 2005b).
Alterações cognitiva, cerebrovascular e psiquiátrica têm sido demostradas em usuários crônicos de maconha. Para entender melhor a duração destas modificações uma avaliação da neurofisiologia por meio do EEG foi aplicada durante a síndrome de abstinência e mostrou que as ondas theta e alpha estavam mais lentificadas que o controle e assim permaneceram após o 28º dia de abstinência, o que explicaria as manifestações cognitivas persistentes.
Mais estudos devem ser desenvolvidos com o objetivo de acompanhar este processo e avaliar sua reversibilidade (Herning et al., 2003).
No ser humano os sintomas da síndrome de abstinência da maconha foram descritos primeiramente como emocionais e depois comportamentais. Os mais freqüentes são: humor negativo (irritabilidade, ansiedade e depressão), insônia, diminuição do apetite, perda de peso e dores musculares, com desconforto físico e arrepios.
A gravidade do quadro também varia de acordo com múltiplos fatores. Já existem evidências que os dependentes de maconha têm fissura e lapsos decorrentes da síndrome de abstinência e em função disso, recaem (Moore & Budney, 2003).
Com a comprovação da existência da síndrome de abstinência e a alta taxa de recaídas em função desta, semelhante ao tabagismo, algumas terapias farmacológicas sendo estudadas para o tratamento, como a própria terapia de substituição com a utilização da maconha sintética, que administrado durante a abstinência diminuiu as taxas de ansiedade e depressão, melhorando os problemas com o sono, diminuindo os arrepios, a fissura e revertendo a inapetência se comparado ao placebo.
Não existe dúvida que ela pode se iniciar já nas primeiras 24 horas após a cessação do uso com sintomas de irritabilidade, ansiedade, agitação psicomotora, diminuição do apetite; alterações do sono com sonhos desagradáveis, dores musculares, cefaléia e taquicardia.
Para tratá-la, outras terapias farmacológicas vêm sendo estudadas, sendo descritos resultados positivos com o uso do divalproato de sódio para aqueles que apresentam ansiedade e fissura intensas, pois aumenta o nível de GABA no cérebro, que reduz esta sintomatologia (Haney et al, 2004). O Nefazodone tem sido estudado para o controle da ansiedade e das dores musculares da síndrome de abstinência com resultados positivos (Haney et al., 2003).
A história do uso da maconha pela humanidade, seja como um tempero, como parte de rituais religiosos ou com finalidade terapêutica, vem sempre associada a uma “ampliação da consciência”, geralmente descrita como algo suave, sendo a droga considerada uma substância de baixo potencial de intoxicação e portanto, culturalmente assimilada como “leve” até os dias de hoje.
Estes aspectos histórico-culturais podem ter contribuído para este descompasso na investigação de sua ação e de seus efeitos. Atualmente os canabinóides tem sido investigados para alívio de sintomas de diferentes doenças graves e estigmatizantes, como o câncer e a AIDS, entre outras.
Em função do aumento do seu consumo e dos problemas relacionados, outra tendência atual tem sido rever a importância do papel da maconha como fator de agravo à saúde, principalmente de adolescentes, sobretudo no impacto de seu uso sobre a vida escolar e também, sobre a evidência da existência das síndromes de dependência e abstinência.
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